Eduardo Guimarães

sábado, julho 22, 2006

Postagem final

Oi!
Venho aqui apenas para anunciar o último post do blog! Quero agradecer também a quem, de qualquer forma, contribuiu, ou a quem comentou, ou a quem apenas aqui veio. Isso foi criado por causa da mente que não parava quieta, e também por causa do tédio. Porém, perdeu a graça! Bem... obrigado, então!
Último texto:
Já ouvi algumas pessoas tentando conceituar "feitos bravios", assim dizendo, certas atitudes que as tornam "aventureiras", ou "corajosas", ou "destemidas", ou qualquer outra forma de definição. E que, pela pesquisa, vi que isso se dá quando elas enfrentam algum tipo de embate, de difícil escapatória. Na guerra, por exemplo; da luta pela ascensão na vida, da pobreza à riqueza; vencer uma doença... Mas creio, em opinião própria, que o pior embate se dá quando a pessoa luta consigo mesma, porque, diferentemente dos outros, essa mesma pessoa, ao tentar escapar de tal luta, estará fugindo dela mesma, e não de algo externo; ou, então, se tentar revidar, vai estar lacerando a própria carne... Neste embate, sim, tudo se põe à prova!
Tchau! Obrigado, mais uma vez!

terça-feira, julho 04, 2006

O Perdão

Sem mais razões, abro-te meu coração,
Para te conceder mil perdões,
Cujos impulsos meu corpo clama e venera,
Torna em brisa mansa semelhante torvação.

Apraz-me os ensejos de tal caminho,
Pleno em encantos indestrutíveis,
Pois que consigo trilhá-lo sozinho,
Sem a necessidade dos conselhos inaudíveis.

Faz brotar a semente da perpetuidade,
Ainda que esta seja efêmera.
Desculpai-me tal franqueza paradoxal,
Mas esta, sim, é uma sublime verdade!

E esta via de rios inseguros, porém navegáveis,
Corrói a alma daquele que, com seu barco,
Triste e profundo percorre, aflito,
Uma ida sem volta contra a correnteza.

A Serenidade

Que seria a serenidade, assente ao trono real,
Senão a própria sabedoria encampada nas rugas,
Terríveis, despóticas, dobradiças e desencantadas,
Do rosto encolhido e turvo de quem, impiedosamente,
Ultrapassou, utilizando-se da nau ferrenha e absoluta,
As ondas ferozes e retilíneas do mar da vida?

Traz a ti esta serenidade o ardor do abrir dos olhos,
Cujas pálpebras aliviaram a tensão provocada,
Pelo fulgor estonteante dos raios de sol?

Está a serenidade reinante, tal como a um deus de pagãos,
Numa cadeira velha, encurvada e vacilante,
Cujas pernas confundem-se com as do seu senhor,
Cujo balançar contínuo e melancólico,
Acalenta as lágrimas perdidas dos olhos,
Dispostos a fechar-se por completo?

Revela a ti mesmo a necessidade de manter-te,
Sob o brilho da luz perversa do tempo,
E procura nesta obra o teu próprio passatempo.

A serenidade surge aparentando honradez e reflexão,
Ou esconde a sua verdadeira face monstruosa,
Nas profundezas dos sulcos do rosto anfitrião?
Espera ela com a calma de quem se põe prostrado,
Diante do espelho vital, repassado e malgrado,
Através do qual se vê o espectro distorcido e resguardado?

Desvenda os mistérios dessa deusa dos mártires incólumes,
Heróis desbravadores, a labutar com a serenidade permanente,
Obtida graças às volições prolongadas e valentes!

O Trajeto

Evaporem-se as perdas doentias sentidas pelo ser,
Estático, cujos demônios superam-no em decência,
Eis a maneira ardil, irrequieta e calada de viver!
Soem os trompetes! Avante à permanência!

Afofam os pés da mente outrora cruel e corajosa,
A lama dos jardins floridos, nauseante e pegajosa,
Cujo adubo, consolo do mal, do escárnio,
Os cães produzem com a podridão de suas vísceras!

Oh, ser agonizante de mãos atadas à própria cruz,
És mais lendário que uma brisa suave,
Dum deserto corruptor, filho da poeira que o produz.

Atina-se em sua jornada viril e pecaminosa,
Guarde, com anseio, a sua ação mais vibrante e honrosa,
A ação fugitiva dos sulcos assassínios d’alma!

sábado, junho 24, 2006

Olhos D'agua em: "Fui às compras"

Example



"Hoje, o sol, fraco, surge,
Por entre mil encantos,
O que me trará o dia?
Quais serão os seus planos,
Para mim..."
_Ika, ande rápido, ou perderemos o ônibus! Venha tomar o seu café! - gritou a mãe de Ika, como sempre exaltada.
"Estou indo! Calma, não posso esquecer a Srta. Brist!"

[Já à mesa]


"Ah, mãe, novamente estes cereais que deixam nossa boca explodindo, fazendo 'croc croooc'? Ainda prefiro comer insetos, como os macacos da relva na África" [Disse Ika, enfiando algumas bolotas de cereal através do pescoço oco da boneca denominada Brist] "Aposto que, se a Srta. Brist tivesse cabeça e boca, estaria reclamando, agora..."
_Pare com essas maluquices, menina! Coma logo! Eu só a estou levando porque é o jeito, senão largava você aqui mesmo.
"E por que é o jeito, mãe? Como assim jeito?"
_Chega de enrolações! Coma logo! Ande!
[Ambas saem de mãos dadas, em meio a uma fina garoa, apesar de alguns raios de sol. Ika passa pela pessegueira e lhe acena. A árvore retribui brincando, fazendo chover sobre a garota algumas gotas mais grossas]
"Ihihihihihi!"
_O que é, menina? Deu pra rir do nada agora? Ou está rindo de mim? - pergunta a mãe.
"Não, mãe! Foi algo que lembrei, apenas".
[Andam alguns quarteirões até chegar ao ponto de ônibus, que não demora a surgir]
"Moço, eu ir em cima do ônibus, pode?" - pergunta Ika ao cobrador.
_Perdão, garota?! - responde o cobrador, meio assustado com a questão.
"Hã? Fale alto! Fale mais alto, porque sou cega, não escuto! Hã? HÃÃÃ???" - grita Ika, pondo uma das mãos em forma de concha na orelha.
_Chega, menina! - chia a mãe ainda mais alto que a garota, puxando-lhe pelas mangas do casaco. _Andar com você é realmente um martírio! Senta aí e fica quieta! Oh, meu Deus, por que eu mereço?
"Mãe, você está com o olho roxo".
_E que tem você com isso?!
"O papai dormiu em casa ontem?"
[No supermercado]
"Mãe, por favor, não pega cereais, porque eles fazem nossa boca explodir..."
_Não comece com as suas maluquices! Fique aqui, deixe-me um pouco em paz, preciso me concentrar pra não esquecer nada. Vá andar por aí e só apareça em minha frente quando eu estiver no caixa.
[Ika começa a andar sozinha através das inúmeras gôndolas repletas de coisas de todos os tipos. Adiante, na seção de doces, está um garoto]
"Esse aí não presta não." - diz Ika ao garoto.
_Por quê? Eu sempre comi dele. Acho melhor que aqueles chocolates ali, com fruta dentro.
"Você é quem sabe. Eu dava esses doces pra Srta. Brist e ela teve a cabeça arrancada do corpo, por causa deles".
_Hã?? E quem era a Srta. Brist?
"Um ser que ainda anda comigo, bem juntinho" - disse Ika, fitando o garoto de forma animalesca." [O garoto se afasta sem levar o doce]
[De volta a casa, à janela do quarto]
"Hoje eu estou mais eu,
Porque eu me senti mais eu,
Mas não era para eu me sentir assim,
Porque não era para querer ser assim"...
[Luzes apagadas. Mais uma noite a ser atravessada, naquela estação fria e obscura]

Olhos D'agua em: "Ika x árvores"

Example




"Além de mim,
Muitas léguas, a andar,
Sob um sol forte...
Espero poder contemplar,
Tudo o que estiver,
Ao alcance, o mais nobre,
O leal, irá imperar..."(...)

_Está produzindo novamente, Ika? [Perguntou a frondosa pessegueira, fincada em frente à casa de Ika]

"É, eu costumo produzir e falar muito quando os meus olhos ardem. Assim o diga a Srta. Brist!" [diz Ika com serenidade, sacudindo a boneca sem cabeça para dela obter um sim] "Queixo-me às vezes de um tédio qualquer, mas tédio maior não haveria se eu fosse você, pessegueira..."
_Agora, açoita-me? E por que estaria eu entediada? - perguntou a pessegueira.
"Ora, acho que você não percebe porque já se acostumou a essa vida de árvore. Olha só o que eu posso fazer... Fica um pouquinho aqui encostada nessa pedra, Srta. Brist" [Ika caminha até a beira da rua, recua um bocado e começa a dar imensos saltos, belas piruetas no ar]
_Ora, e você acha mesmo que é necessário pernas para se divertir? - retrucou a pessegueira. _Pois olhe isso atentamente! [Diversos galhos começaram a se sacudir, do meio à copa, e uma chuva de belas flores pairaram no ar, efetivando um mar de acrobacias, algumas rodopiando, outras caindo de maneira melancólica] _Você é apenas uma! Eu valho por centenas!
[Ika não esperava por aquela resposta e fechou a cara. Pegou a Srta. Brist de volta e aguardou a aproximação de um garoto que passava pela frente da sua casa, àquele instante]
"Aaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!" [Ika grita estrondosamente no ouvido do menino, que sai correndo] "Faça isso agora, pessegueira".
_Ora, pois vamos ver! Mira bem para esse senhor que vem se aproximando! [O senhor passou e um fruto caiu-lhe bem em cima da cabeça, deixando-o tonto e todo lambuzado...]
_Quero ver você fazer isso sem levar umas boas palmadas!
"Hunf! Está começando a chover. Boa sorte com o frio e a umidade. Vou para o meu quarto". [disse Ika, com muita raiva da pessegueira]
_Adiante-se pequena! Os humanos não sabem o que é curtir uma boa chuva como nós, as árvores! Oh, que sinto as minhas raízes mais fortes com esses grossos pingos!
[Já no quarto, Ika pega o seu estimado caderno e nele escreve algumas linhas]
"OBS - Aprender mais sobre as árvores e sua experiencia. Isto me parece interessante."

sexta-feira, junho 23, 2006

Espumas

Example


Entrego-me, neste exato instante, às excrescências, às putrefações corruptoras e soberbas da alma, essas vis e difamantes, ceifadoras do vínculo da vontade entre mim e este mundo! Atreve-se a adentrar-me as janelas mais escondidas dos olhos do meu coração, que por um colapso contínuo de forças arteriais ainda se põe pulsante, tendente a um grito de misericórdia no intuito de o seu esforço não ser em vão, no intuito de que o fluxo vermelho-forte, objeto do seu labor insuperável, jamais coagule! Oh, teias da exasperação, cujos laços envolventes grudam, num abraço tempestuoso, a pele do ser em agonia! Onde estarás tu, aracnídeo mal-feitor, que não no centro desta obra amaldiçoada, a perseguir-me até os suspiros finais desta minha existência lúgubre?
E, despojado de quaisquer cerimônias sutis, de quaisquer ações que demonstrem um simples caráter do cotidiano de uma pessoa, eis-me cá, debruçado à janela frontal de um quarto que cheira a um enterro, a uma estonteante revolta ao mais belo dos sentidos olfativos, os quais levantam os punhos frente ao odor vil, à sensação invisível que faz os olhos de qualquer ser experimentado marearem-se, subjugados... E, já quase atirando-me abaixo da sacada, estando eu buscando a fuga àquele odor, através das ventanias vindas do longe, paro diante da minha tês confusa e oblíqua, desarranjada ainda mais pelo espelho antigo e negro o qual descansa a um canto do recinto nauseabundo... Posso ver-lhe as rugas de espelho velho e quebradiço, cujas pernas mal conseguem mais diferenciar o são do embrutecido... Posso ouvir-lhe as piadas que faz das imagens por ele projetadas... "Aqui, o que estou eu a mostrar a vós, algumas cenas incólumes? Errais, biltres! Errais, de maneira grotesca e pueril! Pois que estou a mostrar-vos o peso do tempo atuante sobre vós, as criaturas sem imagens! E as mostro da forma como irradia vossa alma, solene, porém distorcida, plena de indecisões! A verdade de uma visão crua e maltratada de vossas pessoas, assustar-vos-á? Quebrai-me, por conseqüência, quebrai-me em mil pedaços! E me sagrai o dono da verdade, já que, quem o é, sofre pela perseguição animalesca!"
Oh, espelho dos infernos, tua madeira negra, enrijecida e podre, o teu centro vítreo a confundir ainda mais a realidade, mediante imagens turvas e opacas, fazem-me a realidade ainda mais conflituosa! Nâo! Não tenho eu, além do respirável, a perturbação de continuar os meus minutos convivendo com a tua própria existância! A passos largos, adianto-me à tua frente e, aos golpes de mãos arredias, quebro-te em mil pedaços, como ordenaste a quaisquer criaturas com tamanha coragem! Oh, que linda visão, teu corpo partindo-se como a uma árvore, quando tocada pelos raios dos céus! Geme, agora, infame! Vê o que faço com teus vidros porcalhões! Atiro-os janela afora... Poderão eles ainda projetar uma imagem de vultoso tamanho? Ah! Não mais!
Os pedaços de vidro atirados fazem brilhar a luz do luar cristalino, e ocupo-me em observar intensos e pequeninos cristais de prata, descendo ao léu, descrevendo uma via retilínea, perdidos como os capitães, os últimos homens a abandonar o navio que queima em desespero. Adeus, imagens!
O vento cortante principia-se... As cortinas que privavam a noite de sua beleza obscura abrem-se, por completo. As estrelas conservam-se apagadas, como que, assim como eu, observando o fundo negro de todo o redor. Vós, brilhareis hoje? Qual a vossa resposta, ínfimos pontos de luz? Mostrai-me as tuas cinco arestas de puro fulgor argênteo, tenho delas saudades!
A resposta vem-me sob a forma de um sussurro eólico, e nada mais surge. Onde está a cidade? Escondida sob aquele vulto? Mas, que importa ela... Uma vez que me deparo, neste instante, com as minhas mãos pálidas e sem vida, cobertas parcialmente pelo casaco preto que uso, apoiadas à estrutura da varanda, num laço de generosidade para com o cimento duro e frio... Atrevo-me a dobrar uma parte do casaco, a fim de deixá-las totalmente à mostra, contrastando aquele branco nauseante ao negro encorpado do ambiente. Pandora, faze as vezes, abre a tua caixa! Que fazeis vós, cá, mãos? Qual a função de vós, grudadas em mim? Uma mão direita que leva a colher até a minha boca, para não me deixar cair de fome, enquanto o conteúdo do prato vai se diminuindo, até extinguir-se de vez? Uma mão direita que faz tocar uma singela pena, e concede-me o dom da escrita, este que, a mim, foi tão necessário outrora? Uma mão direita que apertava a mão de pessoas valoradas pela sociedade, por seus feitos bravios, ou pelo simples ato de conseguir passar pelas etapas mais amargas de suas vidas? Uma mão esquerda que permitiu o meu apoio à parede, no momento em que meu corpo vacilou e terminaria ele rolando pelas escadas do castelo? Uma mão esquerda que ajuda a direita com o seu cetro? As mãos que uniram-se à boca para aumentar o som provocado pelo grito audaz, pelo grito de quem chamou a atenção de um ser a caminhar ao longe, colhendo os seus frutos, talvez? Colhendo os seus frutos, ou talvez as suas raízes... As mãos que, junto com os braços, que formam os seus caules, encolheram-se para proteger o resto do meu corpo às investidas de um pobre sujeito cuja existência havia perdido o sentido? Oh, mãos, estes são os únicos feitos heróicos dos quais sois capazes? Mostrai-me algo mais, isto não é o vosso ultimato, não podeis parar por aqui! Resvalai-me por dentre as águas dos rios infinitos, a banhar o cume da montanha, por que não? Subis, com vossa agilidade, até a boca do vulcão e, com vossa maestria, combateis as lavas pelo cone de fogo vomitadas! Impacientai-vos com a sujeira de tais atos vos proporcionaria? Sujeira esta que poderia encrostar-se em vossas unhas? Estou farto dos teus serviços prestados, mão esquerda! Queres tu um banho, uma maneira de limpeza gentil e singela? Pois então, saiamos da dita varanda, ultrapassemos alguns aposentos do castelo e, cá, encontramo-nos à copa imunda! Mão direita, obedece-me uma vez mais! Segura aquele pedaço de metal translúcido e efetua-me mais um serviço! Oh, e eis que a mão esquerda é atirada para fora do corpo! O que é isso, que dor é essa, o caule está a reclamar da perda de sua companheira mental! Perdeste o sentido da existência, tu que eras apenas um sustentáculo à pétala-mór? E a seiva cor-de-rubi é expelida! Soltem-se os metais! Ah, o bom e velho grito, o som seco, gutural, saído dos confins da força própria, amontoa-se ele no ambiente! Vibreis, corpos todos! Sintais esta espuma rubra que lhes toca a pele! Oh, embalos da pura espuma, a amedrontar os globos oculares das nefastas, porém viris, criaturas, a bailar junto com cena, alvejando, urrando, tornando-se majestades! Onde pus a coroa e o cetro?
Desço estas escadas, construídas de uma forma bastante peculiar, a permitir apenas uma pessoa por vez a pisar em seus degraus dúbios e medonhos. Vós não me fareis cair neste instante em que a espuma consente em segregar-se do anfitrião! Não ainda, possessos! Esconjuro-vos, abjetos torpes! Oh, os portões do castelo! Abri-vos, que uma pessoa quer sair através de vós! Desse jeito, escancarar-vos-ão!
E a densa floresta? Como passar através desta escuridão, cujo manto despido de piedade faz-me ferir perante os galhos ainda mais negros e curvos, lacerando-me a carne? Oh, gratidão espúria, que os corvos façam de vós a morada dos deuses! Já me ponho a avistar o pequeno casebre, a lançar a fumaça cinzenta da madeira seca queimada, cujo calor creio esteja aquecendo ao teu corpo perdido na noite gélida. Correis, pernas, correis furiosamente, é apenas mais este pedido que vos faço, nessa ímpar rota ao objetivo! Estaco-me, doravente, de frente a uma das janelas do pequeno casebre... No interior, uma imagem a denotar a existência de um ser diferenciado... Sim, decerto, ponho-me a conseguir! A minha mão restante falta derrubar a porta. O ser do interior do casebre assusta-se com o barulho repentino, a adentrar-lhe o próprio interior, atacando as muralhas da noite silenciosa e sem estrelas. O ser levanta-se e abre a porta, após certificar-se de que não se trata de qualquer agressor estranho, ou guardas sedentos. Ao mostrar-se, ainda vejo o clarão dos olhos daquele ser, um clarão verde e com vida, mas um tanto opaco, desperdiçado. A visão faz com que ganhem brilho novo, mareando-se por completo, a transformar o opaco em lente límpida.
"Estava eu à procura de novas funções para estas minhas mãos, que não fossem o objeto do escárnio de minh'alma, povoado de sensações mundanas! Olha, pois prestei uma vantagem à senhoria esquerda, que, porventura, esteja, nessa hora, saboreando a liberdade plena! Anda, mão esquerda, vai à tua família! A direita desempenharia melhor papel, mas não tive como arrancá-la à liberdade! Por que o fiz? Porque elas estavam revoltas, habituaram-se ao novo e, ao perdê-lo, sentiram-se maltrapilhas e despojada do dom de tempos diferenciados! Deixaste-me tu, oh alvo ser... E as mãos acostumaram-se a enxugar as tuas lágrimas, quando estavas tu esmorecida, a um canto; afeiçoaram-se ao calor da tua pele, minutos infinitos e jocosos, jactantes, repletos de esmero!; habituaram-se a afagar os teus cabelos trançados, a tocar-lhe a face como o faria a singeleza de uma brisa de verão, a tocar-te os ombros e te fazer deitar, entregue ao tato de ambas... E, ao saberem da condição da volta aos momentos únicos e vívidos, propuseram-se ao alcance da liberdade, contrário ao sentido do novo renegado! Entretanto, a direita clama, neste instante, por um último toque, por uma última... sensação!"
Através dos meus olhos ébrios e ambíguos, vi a mão direita, como uma pétala ao início da primavera, espichar-se, como pedindo ao primeiro inseto que a polinizasse com as mais belas dádivas ofertadas pela Natureza. Após um último esforço, numa tentativa de puro desespero aterrador, as pétalas tocaram o chão de neve alva, lá se afundando para nunca mais sair. E uma gota do orvalho dos olhos do ser, ali parado, atingiu em cheio a pétala, que naufragou satisfeita em meio à espuma branca da neve e ao caos do fluxo ruborizado.

quarta-feira, junho 21, 2006

Procyon - Parte 3 (aos saltos!)


À luz do soberbo encanto,
Um lapso martirizante da memória,
Onde estará o caos marítimo,
Perceptível e complacente de outrora?
**
E por que ir atrás do caos?
Não olvides o canto nefasto,
Além do passado, sensitivo,
Adiante atrás de outras naus!
**
É a forma das idéias,
Em sua plenitude fulgurosa,
A embalar quaisquer tons,
Mostra-me tua fronte poderosa!
**
Avisto o trajeto, a me rodear,
Que seja feita, deste imenso espetáculo,
Desta intensa, vívida, límpida via,
A luz do teu olhar!
(...)

sexta-feira, junho 09, 2006

Certa vez eu estava conversando com minha irmã acerca de umas coisas, e acabamos parando em algo relacionado à existência do destino. Ela disse que acredita nele perfeitamente... Por exemplo: um cara pega a moto e pilota numa estrada, na qual um raio acerta uma árvore que, por sua vez, cai por cima da moto matando o cara... Isso, para ela, não seria obra da coincidencia... Algo "pre-determinado" estaria conspirando para que aquele fato surgisse na natureza. Ou seja, estaríamos mais vivenciando uma análise meta-factual dos trâmites deterministas de um Ratzel da vida, do que a expressão evolucionista de La Blache. Só que aí não seria a natureza atuante nos cânones dos fatos mundanos, o que acabaria por afetar os seres pensantes, e muito além deles mesmos. Afetar-se-ia a tudo e a "todos". Eu me referi mais na hipótese do livre-arbítrio, para explicar coisas assim... Tipo, aquele livre-arbítrio estampado na Bíblia, ou no ir-e-vir do ser humano, este tão escoimado como figura garantidora do direito à liberdade, à potencialidade do "poder-fazer", em diversas Constituições, estas provenientes tanto do civil law como do common law. Mas o relatar-se da Bíblia com a lei dos homens é fora de questão, tendo em vista a proveniência das atitudes. Não é esse o âmbito do assunto em tela (deixemos de lado os conflitos dos céticos, agnósticos, religiosos, etc. e apuremos os fatos isoladamente).
Explicando em linhas amenas, ter-se-ia a seguinte questão: 1) De um lado, ver-se-ia nos fatos da vida, esta em seu aspecto mais lato possível, do nascimento à morte dos seres e coisas, uma forma espiralada, mas com pontos de intersecção. Uma "espiral de intersecção", algo assim: OOOO-OOOO-OOOO Finja-se que as bolas são espirais, e que continuam no seu movimento circular uniforme. Elas representariam tudo o que um ser humano (ater-me-ei a ele) faz desde o nascimento à morte. E que seriam os traços? Seriam o momentum, ou seja, a modificação da espiral. Pegue-se o exemplo de antes. O cara pilota a moto e a árvore cai em cima dele, numa possibilidade quase absurda, em que se encontram tempo, espaço, tudo. A árvore, neste caso, seria um ponto, entre as espirais. E como as espirais continuariam? Numa possível volta do ser, para quem nela acredita (eu acredito). Ou seja, um destino nos guiaria, segundo a teoria em tela. Em minhas palavras, seríamos atores. A diferença é que não conhecemos o "script", daí não podermos prever o momentum, a hora em que um ponto surge, para mudar a rotina das espirais. O ponto faz com que uma espiral se superponha a outra. Não está muito claro? Compreendo. São linhas árduas. Vamos à prática: sujeito sai, como qualquer outro fim de semana, pra curtir uma danceteria à noite. Tem-se uma briga entre dois sujeitos, e o tiro do revólver acerta o nosso rapaz do início da história. Pois bem, para essa teoria, ali era a hora dele. O que tem de ser, tem de ser, é o destino, não se pode escapar. Estava no script. A bala foi o momentum, o ponto que põe fim a uma sequência espiralada. Outrossim, ponha-se aqui aquela máxime: "aqui se faz, aqui se paga"; ou: "você é responsável pelo seus atos"; ou ainda: "colhe-se o que se planta". Essas frases seriam a condição da espiral estar em seu contínuo movimento circular uniforme. Ou seja, o que o ponto faz nada mais é do que parar a sequência de espiral e fazer com que ela retorne ao ponto anterior, ainda que seja sob aspectos irrelevantes diferentes. Resumindo, estamos à mercê do destino. 2) Para a outra teoria, a qual eu creio ser a com conteúdo mais justo (porém, minha opinião pouco importa!), a vida seria assim: _____-------- O que diabos se quer dizer com isso? Quer-se dizer que o homem faz o seu destino, e se certos fortuitos lhe ocorrem é por causa do meio em questão no qual ele encontra-se inserto, arrisca-se nele, tira dele a sua essência e a sua actio. Assim, por essa teoria, e utilizando-se novamente do exemplo do cara da moto, ele sofreu o acidente não porque já estava escrito (maktub!) para que aquilo ocorresse, mas sim por causa do meio que atua sobre ele... Na certa, ele estava indo a um certo lugar, determinado a ir, e algo o impediu (a coisa lá do "risco do meio"). Aqui, agarra-se mais a finalidade, não a condição. Ou seja, o homem seria dono do seu próprio destino, fazendo dele o que bem entender, dirigindo suas ações e colhendo as intempéries. O livre-arbítrio aqui aparece em valor imensurável. A vida não seria volta a um estado retro, mas a perpetuação dos estados evolutivos. Começa-se num lugar e pode-se alcançar outro. E aqui, uma questão: se fôssemos mesmo atores, atuando num palco invisível, cuja platéia fôssemos nós mesmos, por que precisaríamos de um direito regulando as nossas vontades, limitando-a? Para quê serviria o auto-controle, já que faríamos o que estaria escrito, apesar de não sabermos o final? É, então o medo de mudá-lo? E aí já não entraria o possibilismo? Deixe-se levar para onde mais o atraia... Não cabe a mim dizer qual é a certa ou a errada, apesar de eu me inclinar para a segunda.
Para aumentar a minha dúvida, mostrarei um exemplo da teoria das espirais. A propósito, deixe-se de lado quaisquer investidas sobre planos superiores, ou fatos criadores... Com relação a eles, ninguém tem a inteligência suficiente para entendê-los.
Vamos pegar algo atual. O mundo ama futebol. Ao menos, é o esporte mais praticado do planeta. Não estou aqui para discutir sobre futebol, ele será bem-vindo apenas devido aos acontecimentos que fez surgir, em um aspecto temporal. Imaginemos uma linha, então. ____________________________________________________________________
Essa linha começa no ano de 1950 e segue até o ano de 2014. Quem é bom de assunto futebolístico, sabe que o Uruguai foi campeão em 1950. Após, veio a Copa de 1954 e, depois, a de 1958. Epa! Brasileiros na fita! Brasil ganhou da Suécia nesse ano, na final. Primeira taça. Após, vem 1962, no Chile. Brasil de novo! 1966, Inglaterra campeã; 1970, Brasil; 1974, Alemanha; 1978, Argentina; e, o ano central, 1982, a Itália. Marquemos esse ano - 1982. Por que o ano central? Na nossa linha formada, de 4 em 4 anos, numa P.A. forçada, com r=4, 1982 entra como o "ano do meio". Dá pra entender, né? Simples questão matemática. Continuando: 1986, deu Argentina; 1990, Alemanha; 1994, Brasil; 1998, França; e, finalmente, 2002 deu Brasil. Certo, fez-se isso tudo, e bem, pra quê? Calma, criatura! Vamos ver! Antes de sacanear, ou me achar babaca, lembre-se dos momentuns. Pois bem. Veja a sequência de 1958 a 1962: Brasil - Brasil - Inglaterra - Brasil - Alemanha - Argentina. Isso é uma espiral. Ela está ocorrendo. Pode-se ver pontos, mas não tão nítidos. 1982, Itália. Agora, veja-se de novo, de 1986 a 2002: Arg - Ale - Br - Fra - Br. Ponham-se essas duas sequências como 2 espirais, e o ano de 1982 como um momentum. A espiral retorna! Fica assim: Br-Br-Ing-Br-Ale-Arg-Ita-Arg-Ale-Br-Fr-Br-?(2006). 1 mudança apenas, entre Inglaterra e França, mas as quais ocupam o mesmo locus. Potências européias sem um quadro antecessor, rivais históricas. Pois bem. Antes e após o nome Ita, têm-se duas espirais, ainda que uma seja, praticamente, o espelho da outra. Ita corresponde ao número 1982 (o ano). Antes e após dele, têm-se duas espirais - surge o numero "2". 1982 x 2 = 3964. Observe a subtração: 3964 - 2006 = 1958. Quem foi campeão em 1958? O Brasil. Logo, 2006 leva ao locus da espiral correspondente ao Brasil em 1958, o que quer dizer, para quem é adepto da teoria, que a espiral seguirá a sua forma. Ou seja, fácil é compreender que o Brasil será campeão em 2006.
É estranho. Vêem-se que os números batem, com a interferência de certos pontos obscuros. Tal não é um ritual cabalístico, muito menos a forma de uma sabedoria universal. Longe disso! É o factum, somente. Eu não peço, aqui, que alguém acredite nisso! Quem sou eu para pregar a verdade? Oh! Nem Jesus, na maior causa de todas, foi ouvido em sua época! Quanto mais uma teoria como essa... Mas qual é o propósito de mostrar esse lado? Para, simplesmente, nos atermos a ele, num aspecto crítico. Isso mais parece babaquice de criança, que descobriu uma fonte matemática! Bom, eu não sei, pode ser, pode não ser! Sei que, como o Universo é tão vasto, e inconcebível mentalmente (ao menos, por enquanto), tal faz com que eu, antes de jogar água fervendo nas coisas, as analise. Eu ainda continuo com o lado de que podemos mudar nosso destino... com o livre-arbítrio positivo e operante, apesar de a necessidade de algumas limitações perante nós mesmos. O mergulho no cosmos e no nosso próprio interior não pode ser feito se utilizando de um exemplo desses... Há algo profundo e inimaginável, só concebível na força do acreditar. Isso, sim, é um verdadeiro poder!
"E, no sétimo dia, ele descansou". - Gên.

quinta-feira, junho 08, 2006

Day after day alone on the hill
The man with the foolish grin is keeping perfectly still
But nobody wants to know him
They can see that he's just a fool
And he never gives an answer
But the fool on the hill
Sees the sun going down
And the eyes in his head
See the world spinning around
Well on his way his head in a cloud
The man of a thousand voices talking percetly loud
But nobody ever hears him
Or the sound he appears to make
And he never seems to notice
But the fool on the hill
Sees the sun going down
And the eyes in his head
See the world spinning around...
And nobody seems to like him
They can tell what he wants to do
And he never shows his feelings
But the fool on the hill
Sees the sun going down
And the eyes in his head
See the world spinning around
Round and round and round
He never listens to them
He knows that they're the fools
The don't like him
But the fool on the hill
Sees the sun going down
And the eyes in his head
See the world spinning around...

Ela veio sem uma moeda
Uma garota sem um nome
Tão rapido, teve um ataque do nada
É o que ela estava tentando dizer
"Tanta algazarra, meu amante"
Tantos jogos que nós efetuamos
Como cada verão rapido
Como cada dia precioso
Tudo morto, tudo morto
Todos os sonhos que nós tivemos
E eu quero saber porque eu continuo vivendo
Tudo morto, tudo morto
E sozinho eu sou poupado
Minha metade mais doce, preferivelmente
Tudo morto e foi tudo morto
Tudo morto, tudo morto
Até o fim do arco-íris
E eu ainda ouço sua própria canção doce
Tudo morto, tudo morto
Leve-me para trás outra vez
Você conhece meu pequeno amigo
Tudo morto e indo embora
Suas maneiras são sempre comigo
Eu desviei-me de todo o momento
Mas por favor você deve me perdoar
Eu sou velho mas ainda uma criança
Tudo morto, tudo morto
Mas eu não devo te afligir
O tempo vem a cada um
Tudo morto, tudo morto
Mas na esperança, eu respiro
Naturalmente eu não acredito
Você está morta e indo embora
Tudo morto e indo embora