Eduardo Guimarães

quinta-feira, março 16, 2006

Uma Continuidade Descontínua


Permaneço, ainda, na tentativa de romper certas, almejando por alcançar determinado conteúdo. Tanto que ainda não me dei por vencido com relação a concluir as duas obras nas quais trabalho atualmente... Não que elas demandem muito tempo, ou um raciocínio brusco e ininterrupto. Pelo contrário, quase nem toquei mais nas mesmas, durante o passar desses dias. No âmbito do princípio da elaboração da primeira, entitulada "A Voz", em menos de uma semana e meia eu contava já 25 folhas, sendo bem exato. Isso, ainda, no ano passado. Atualmente, está ela com suas 29 fl., ou seja, uma redução brusca de elaboração, quem sabe por alguma falta de motivação, eu ainda não sei. A segunda, denominada "Para Sempre" (é, elas são simultâneas), encontra-se perdida em esboços, quase que numa forma de maquete forçada, sem as peças necessárias. Possui, no entanto, 8 folhas, número por mim considerado um prodígio... Ha! Eis alguns trechos de ambas:
A Voz (pg. 7) - conversa entre o anfitrião e o advogado.
"Bem sabe pelos infortúnios os quais já enfrentei nesta vida. Muitas pessoas, bastante próximas a mim, morreram de modo bastante desgraçado, com muito sofrimento. Isso me acabou. Senti a alma angustiada e vazia durante muito tempo. E ainda a sinto. Sofri bastante, Deus sabe o quanto. E, ao final dos males súbitos, o destino ainda põe em meu encalço este pobre debilitado. Não bastavam os momentos ardis, nefastos, pelos quais havia ultrapassado, até com uma certa margem de tolerância, paciência, por parte minha? Às vezes penso se não é um teste divino, para constatar minha aptidão aos Céus. E tenho resistido bravamente, sou-lhe sincero. Entretanto, não suportaria passar por mais uma temporada de sofrimentos e angústias. Bem sei o que aguarda aquela criatura. As dores o tragarão ao abismo profundo, e eu partirei junto, pois não conseguirei enfrentar outra maratona de aflição, preso a observar o leito sob o qual repousa o corpo de mais um parente querido em meio às torturas trazidas pela doença. Isso não! É um argumento eficaz, há de concordar. Daí que não quero ver o sofrimento estampado no olhar deste garoto, que veio a terra com o fim de padecer de todos os agouros. Assim, acabarei com estas angústias, antes mesmo que se elevem ao ponto máximo. Eu mesmo, com estas próprias mãos as quais estou a lhe mostrar. Disponho-me a arredar as noites sombrias cujas obscuridades nos aguardam! Os tenebrosos dias futuros, e tão próximos de nós, repletos dos venenos da alma, das horas tristes e depreciativas do ser, apinhadas de sofrimento e aflição, ver-se-ão escoimados por minha força de vontade. Mesmo que, para este fim, eu precise burlar as mais diversas leis morais e divinas. No entanto, o nosso Deus eterno haverá de censurar-me do claustro aprisionador de espíritos, dos juízos pecaminosos, da fúria dos castigos arrebatadores, tendo em mira que as minhas ações perfazem-se fundadas na glória da supressão dos martírios de um garoto. Este que por tanto já passara na sua ínfima existência, que por tanto já se envenenara com a ruína dos homens, que já se deparara com a morte, a tardança dos tempos idos, a não permanência das vontades, dos sentimentos! Sim, doutor! Positivamente, enfrentarei as leis, sejam elas divinas ou simplesmente elaboradas ou aceitas pelos homens, que as mantém no ápice das bases dos atos, precavendo as possíveis contravenções numa sociedade formada por indivíduos ansiosos pelo futuro! Definitivamente, coloco-me à mercê do juízo de Deus, este sim o legítimo julgador de nós, animais racionais. Faço-o pelo bem de uma alma, por que não dizer pelo bem da vida, afastando, de tal modo, uma antítese irônica.
_Senhor, estou realmente surpreso, embasbacado, por ter ouvido tal relato, tais concatenações futuras, as quais tem vontade de empreender. – afirmou Silas, expelindo, agora, imensas baforadas do cachimbo de que usufruía naquele instante. É, decerto, algo para se examinar atentamente. A comiseração que o senhor expõe é digna de estudos objetivos e subjetivos. Algoz de um ser, mas por paixão, por puro amor, visando a um bem altivo, a uma ação, certamente, das mais corajosas. No entanto, há de ponderar as reações, as conseqüências de tal ação. O senhor, como já o disse, estaria por burlar as nossas leis; e não apenas estas, como também as referentes a todo o nosso pensamento religioso, indo de encontro ao bem mais precioso que podemos possuir, qual seja, a existência! A vida! Dela, só os seus legítimos detentores podem dispor. Ou estes ou o Nosso Pai! Do contrário, os agressores de tal domínio estarão por cometer o mais hediondo pecado vivente no nosso plano, o de homicídio! E com certeza padecerá do juízo divino, do acerto de contas para com aquele ser lesado, pois o que cá não pagamos, cobrar-nos-ão do outro lado, não há dúvidas! Por isso, condeno esta atitude a qual, apesar de fundada em sentimentos verdadeiros e dignos, indubitavelmente nobres, vem a ser um disparate, um atentado sem tamanho ou limite. Peço-lhe que refaça os planos! Outras soluções haveremos de encontrar sem a necessidade desta vileza!(...)"
Para Sempre (pg. 4) - o garoto encontra-se diante do muro.
“E bem sabia que as escaladas da vida demorariam, tendo em vista o peso das aflições em sua mente impúbere. Ora, mas quantas tentações! Quedava-se numa brandura insofismável, uma sensação realmente despida de quaisquer metodismos, algo parecido com o laissez-faire! E por que não as aplicações de certas instituições em prol do corpo orgânico? Apesar de não entender bem a amplitude de tais conjecturas, aprazia-se em meditar acerca dos fatos ilusórios. Corria velozmente, porventura buscando algumas respostas. Alguns velhos esmorecidos, sentados a um banco da vasta praça, no principal pólo da cidade, observavam-no em sua trajetória lânguida, espúria e incondicionada. E não quereriam eles ainda usufruir-se daquelas pernas, cujas passadas mais se assemelhavam a uma legítima ventania, cuja força a tudo arrasta?
E eis que se deparou com um enorme muro. Já estava ali, qualquer tempo a ser perdido poderia pôr tudo à prova, sua amizade incólume, valores intrínsecos, não mais isolados agora. E que ela pensaria sobre aquele atraso infundado? Perdoar-lhe-ia as desavenças? Ou atiraria ao longe o acontecimento mais importante de sua vida? E, na verdade, poderia ela saber que aquele era mesmo o acontecimento mais importante, a evitar pormenores não atrativos, perfazendo-se sublime como uma paisagem revigorante? (...)”

1 Comments:

Blogger Janaína said...

Não sei por que parou... ¬¬'
Volte a escrever,Eduardo!!!

12:08 AM, maio 31, 2007  

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