Eduardo Guimarães

segunda-feira, setembro 26, 2005

Da luta - I

Há de se comentar a relação existente entre a luta incessante que permeia todas as relações pré-existentes, bem como as vindouras. Concebemo-la, ou haveremos de concebê-la como um instituto permanente, inserto nos cânones de toda a estruturação lógico-transcendental concernente a uma varredura de amplo sentido de todas as esferas imagináveis. Não se trata aqui de uma luta momentânea, cuja consecução aflora às conjunturas margeadas e traçadas pela efemeridade dos eventos os mais ocorrentes nas faces das relações de paridade entre seres e moléculas mais simples... tal propósito, por cá abrangido, vem de encontro às diferenciações no âmbito de toda uma estrutura arraigada nos tempos mais primordiais possíveis, até o hodierno, relativamente. Uma percepção abrangente de toda e qualquer forma de acolhimento dos traços formadores e/ou decompositores das relações, estas bem simples, ou mais re-arranjadas num cerne mais abrangente. Ou seja, a luta em sua configuração "lato sensu", visível ao mundo tanto dos olhos daqueles que desejam entregar-se a esta conjuntura, como daqueles que optam pelo seguimento do mundo das idéias, sem postergar, porém, o vivenciar das sensações e mudanças, quais sejam momentâneas ou contínuas, abruptas ou vagarosas.
Em primeiros planos, requer-se, tem-se o mister de traçar as idealizações vindas de relações menos complexas, porém importantíssimas no trato da luta "lato sensu" como forma de basilar consubstanciação em se subjugar as intempéries advindas do meio, ao se tratar da sucumbência de muitos seres perante as intempéries do espaço em que habitam. Alça-se um microcosmo, ambientalizado pela percepção de que somente aquele espaço necessário deve ser ocupado para, logo depois, procurar-se outro, reiniciando-se um ciclo porventura interminável. Centrar-se-á, destarte, a existência de vários microcosmos em formação no interior de um único macrocosmo. No entanto, até este pode vir a ser eivado e, consequentemente, tolhido do mundo das percepções, pelo alargamento do mundo das idéias. Ora, bastar-se-ia mudar o ângulo das visões para se ver aquele macrocosmo "retro" citado ser engolido totalmente pela existência de outro ainda maior, ainda mais agigantado, iniciando-se um pensamento interminável de inúmeras possibilidades... Porém, tais formas de pensamento não serão tratadas desde logo, pois, no momento, visa-se ao traçar de algo mais objetivo e centrado. Voltando às concepções anteriores, pode-se depreender da lógica dos tempos passados que os seres sucumbiam perante o meio habitado, este hostil e perverso às aspirações concernentes ao instinto de todos. Uma forma primitiva e fácil de luta, esta tida agora em sua maneira "stricto sensu" de ser concebida, apenas um de seus prismas. Alargue-se para o passado o desenvolvimento das possibilidades mais ocultas, porém presentes em todas as relativizações de mundo: as descargas elétricas sobre água, em condições especiais, gerando moléculas... tal se pode vislumbrar como uma das facetas da luta em si mesma, formadora de algo inexistente, para contrastar à idealização do nada. Aí, a função da luta escora-se na extinção do nada, inconcebível em todas as formas. Indo adiante, muito mais longe, perceber-se-á a luta como formadora de determinadas "super-estruturações" já no bojo de um espaçamento efetivamente pré-ordenado e pronto para ser desbravado, devido às suas condições, ainda que hostis, mais acalmadas. O instinto é o sentido que mais prevalece neste âmbito, tolhendo os mais fracos e dando suporte aos mais fortes, dentre os quais, o "sub-sapiens", qual seja, os mamíferos não mais encorpados, mas, sim, os mais detentores de uma idealização pré-concebida acerca do mundo que o envolve, tendo em vista as ligações nervosas, ainda que mais ínfimas neste exato momento. Pela luta, guiou-se à consubstanciação de ações que ativaram o desejo da necessidade de permanência em terra, em plano material. Isso quer dizer o desenvolver de mais instintos, contribuindo para uma formação mais complexas ainda de atos, dando consequência a fatos, tendentes a uma re-organização de uma super-estruturação que estava para ser formada e vivenciada. A luta, agora "lato sensu", proporcionou ao desenvolver dos instintos de maneira relativamente rápida, no que tange ao enfoque dado pelos seres "sub-sapiens", utilizadores de uma razão idealizada em meros atos empíricos, através de uma experiência reiterada, acarretando uma aspiração à vida... daí uma sublime antítese entre "luta x vida", conjugação cujas vivências estabeleceram a formação de novas estruturações. E, num processo de seleção oculta da vida pela vida, preponderaram os "sub-sapiens", em sua busca destemida, porém cautelosa, de encontrar-se naquele meio, ainda tão hostil, de utilizações de fatores que lhe seriam essenciais na perpetuação. Ora, com a complexidade que se instaurava no que concerne aos objetivos conseguidos pelos "sub-sapiens", as idealizações referentes à formação de algo mais e mais intrínseco começou a aflorar, pois que se começou a adotar, como lineamento fundamental, as relações "sub-familiares", não tidas ainda em seu bojo mais completo. Ou seja, a luta agora seguia um curso mais despojado, concatenado numa rede de diversas relações, tanto entre espécimes diferentes, como entre as mesmas (tal conjectura já ocorrente nos primórdios, entre grandes mamíferos e répteis, ou mesmo no cerne molecular - aí, não há a forma familiar, mas sim o conglomerado de semelhanças, guiadas também por puro instinto). Destarte, defender-se-ia o próximo, o qual inserto no bando, tendo em vista a união de grupos para uma melhor chance de defesa perante as intempéries, mas ainda num número limitado, guiado por formas mais complexas de instinto, entretanto, já dando bases à razão e ao desenvolvimento de verdadeiros sentimentos de harmonia necessária, ligada pelos vínculos os mais diversificados... mas, diga-se, ainda reinando os instintos, como fator dominante.
Diante dessa conjuntura, mediante atos e fatos, principalmente, empíricos, experiência conseguida com o passar dos tempos e com as vivências mais calcadas, até mesmo transmissão de conhecimentos adquiridos por tal vivência, como maneira de guia instintiva com a finalidade de uma maior manutenção estrutural, concebeu-se a formação das aglomerações do não mais "sub-sapiens", mas sim de um ser já guiado por instintos conjugados em sentimentalismos racionais, em "povoações" ligadas por traços de familiaridades, advindo a noção mais primitiva de Estado. Tais povoações dominando, sobremaneira, a África setentrional, o Extremo-Oriente e, principalmente, a Europa. Advém uma fase importantíssima na re-organização dos ideais de junção lógico-racional, fase esta sedimentada na mitificação e no desenvolver das melhores tecnicidades, visando sempre a um fim próximo ou remoto, diferentemente da fase dos instintos, sempre primando pelo ponto próximo. A luta também adquire novas roupagens, tendo em vista o aprimoramento não apenas no bojo material da situação (aprimoramento de técnicas, complexidade nas relações intra/inter-subjetivas), mas também no idealizador, mudando-se a visão de espaço para uma concepção mais abrangente, e também mais geradora de encargos no que tange ao tratamento do mundo. Suprimiam-se os instintos para dar lugar a algo mais concreto e, ao mesmo tempo, mais abstrato, dando início a nova antítese, apesar de sempre se ter em mente a preservação vital e a perpetuação dos atos individuais (trazidas desde os primórdios, em vias totalmente instintivas). A mitificação permitiu a estratificação sócio-racional das povoações, bem como alicerçada nas funções que cada ser efetivaria naquele espaço. Tal não se deu em povoações do Extremo-Oriente, como na Mandchúria, em que as ações de vivência, e os atos de intensidade empírica tomou o lugar das forças ocultas explicáveis apenas por vias transcendentais, porém inalcançáveis. Como exemplo destes experimentos mitificadores, citem-se os sacerdotes egípcios, os oráculos, as civilizações mesopotâmicas, os Vikings, e, principalmente, os traços centrados nas culturas helênica, romana e macedônica. A mitificação surgiu como forma de um maior entendimento dos fatores ocultos e naturais que aconteciam no meio em questão. A partir da vivência reiterada, a razão sentia a necessidade da explicação dos eventos até então inexplicáveis. E isso gerou luta, mas em seu aspecto "lato". Nesse ínterim, o espaçamento das ações humanas dominou o mundo, tornando-o pequeno, perante as necessidades de conquistas, concebidas pela congruência de "luta - expansividade". A busca por novos territórios, o alargamento das fronteiras, a necessidade do passar cultural de cada um consistiu numa nova ordem, o que remonta às bases do surgimento das super-estruturações familiares, guiadas por institinto. Preservação e repasse. Nada mais lógico. E. quando se trata de tal aspecto, pensa-se logo em Roma. Porém, não apenas, devido à existência de muitos povos naqueles limites do globo estarem, também, vestindo as novas roupas da re-organização social, esorada na luta aliada aos instintos trazidos e à vivência adquirida com o passar das épocas, estas numerosíssimas.

quinta-feira, setembro 22, 2005

As discrepâncias prevalecem no mundo dos humanos.